Tier 1. O segmento de energia solar fotovoltaica tem crescido exponencialmente na última década. Para suprir a alta demanda, também movimenta o mercado de fabricantes desse tipo de tecnologia em todo o mundo.
Para assegurar que o consumidor tenha acesso a equipamentos de qualidade, foi necessário desenvolver técnicas para distinguir as empresas de boa reputação e que possuem boas práticas industriais.
Uma das classificações mais reconhecidas no setor de energia fotovoltaica é a Lista Tier 1. Confira no artigo a seguir do que se trata essa lista e qual sua relação com a qualidade dos módulos fotovoltaicos.
O que é a Lista Tier 1?
A classificação Tier 1 foi desenvolvida pela Bloomberg New Energy Finance (BNEF), que disponibiliza dados, análises e demais informações relevantes para os profissionais do mercado de energia.
Dessa forma, contribui para que os fabricantes tenham o devido reconhecimento, ao mesmo tempo, em que facilita a identificação de empresas que trabalham adotando boas práticas em modo de fabricação e gestão.
No entanto, é importante compreender qual é de fato o propósito dessa classificação, para não confundi-la como uma garantia de qualidade dos produtos, pois não é disso que se trata.
Até mesmo a BNEF alerta que essa classificação não foi desenvolvida para garantir a qualidade dos produtos, não serve para tal propósito e nem mesmo substitui a necessidade de análise e inspeção dos processos técnicos e parâmetros de qualidade.
A Tier 1 é, na verdade, uma forma de certificar a saúde financeira de uma empresa do setor de energia. Para que uma empresa faça parte dessa lista, é preciso atender a alguns requisitos.
A primeira exigência é que a fabricante tenha uma marca e fabricação próprias. Isso significa que não pode envolver a terceirização da produção, nem agregar células de outras fabricantes em seus módulos. Essa é uma forma de selecionar empresas que tenham maior controle sobre a sua produção, e consequentemente sobre a qualidade dos seus produtos.
Além disso, a empresa também não pode ter pedido concordata (falência) ou estar em situação de insolvência. Por fim, precisa ter cumprido o fornecimento de módulos fotovoltaicos para pelo menos 6 projetos com capacidade acima de 1,5 MW, financiados nos últimos 2 anos por instituições financeiras diferentes e que não sejam bancos de desenvolvimento.
Esse financiamento precisa ser do tipo non-recourse, ou sem recurso, através do qual o banco toma como garantia para o empréstimo algum ativo do cliente (que pode ser o próprio empreendimento fotovoltaico, ou um imóvel, etc.). Em caso de não pagamento, o banco não poderá cobrar valores extras após a tomada desse ativo.
Quando um banco autoriza o empréstimo para viabilizar um projeto fotovoltaico composto por painéis de um fabricante que não respeita suas garantias ou tenha práticas duvidosas, a implementação do projeto fica naturalmente comprometida.
Sendo assim, o risco de prejuízo aumenta, bem como as chances de que o banco perca dinheiro mesmo com a tomada de ativos do cliente.
Portanto, esse tipo de empréstimo é considerado muito arriscado para o banco. Em função disso, é preciso adotar critérios rigorosos para a análise interna de qualidade dos componentes e do projeto como um todo.
Como os bancos não divulgam publicamente quais os critérios adotados para a autorização de crédito para projetos fotovoltaicos, não se pode presumir que a lista Tier 1 seja um indicativo seguro sobre a qualidade dos módulos dos fabricantes que nela estão presentes.
Mas afinal, o que é possível concluir a respeito dos fabricantes incluídos na classificação Tier 1? É seguro afirmar que as empresas que estão nessa lista possuem uma boa bancabilidade, o que significa que têm grandes probabilidades de que os projetos que fazem uso de seus módulos tenham um financiamento aprovado.
A bancabilidade é um critério interessante a ser observado, pois indica a reputação que o fabricante tem perante os bancos, ou seja, a capacidade de honrar seus termos de garantia e de suprimento de materiais.
Esses não são critérios relacionados diretamente à qualidade dos produtos, mas ainda assim são fatores importantes de serem priorizados para pôr seu projeto fotovoltaico em prática da maneira mais simplificada possível.
Afinal de contas, ter o empréstimo aprovado é um primeiro passo muitas vezes indispensável para que o projeto possa ter andamento. Essa classificação ajuda o projetista ou cliente a selecionar um fabricante com uma boa confiabilidade para prover os equipamentos necessários para o projeto.
A BNEF, responsável pela criação dessa classificação, recomenda que, ao invés de usá-la como medida de qualidade, sejam feitas análises sobre as empresas qualificadas para trabalhar com energia solar. Essa é a melhor forma de estabelecer uma parceria segura, com menos chances de prejuízos e imprevistos.
Como avaliar a qualidade dos módulos fotovoltaicos?
Como a Tier 1 não pode ser considerada um indicativo da qualidade dos módulos fotovoltaicos, é preciso buscar outras formas de avaliar as condições do produto. Apesar do selo INMETRO ser comumente utilizado no Brasil como garantia de qualidade e segurança, não contempla todos os requisitos internacionais.
Como a maioria dos equipamentos do setor de energia solar fotovoltaica é importada, a certificação do INMETRO não diz muita coisa.
O ideal é avaliar se os módulos solares passaram pelos testes do IEC 61215, essa sim uma forma garantida de comprovar quesitos como durabilidade, eficiência, segurança e desempenho. Esses testes incluem:
- Inspeção visual
- Determinação de potência máxima
- Resistência de isolamento
- Teste molhado de fuga corrente
- Medição dos coeficientes de temperatura
- Medição da temperatura Nominal de Funcionamento da Célula
- Desempenho do Painel Solar
- Teste de exposição ao ar livre
- Teste de resistência contra granizo
Entre outras análises. Além da norma internacional IEC 61215, existem outras normas específicas para determinadas falhas, com o propósito de comprovar a durabilidade de um módulo fotovoltaico. São elas:
- IEC 61730: Avaliação de segurança dos módulos fotovoltaicos para o risco de choque elétrico, perigo de incêndio, mecânica e segurança estrutural.
- IEC 61701: Exposição a neblina salina. É um método de ensaio normalizado utilizado para verificar a resistência à corrosão.
- IEC 61345: Teste com radiação UV, utilizado para testar a resistência do revestimento. Determina a capacidade que um módulo fotovoltaico tem de suportar exposição a ultravioleta (UV) de 280 nm a 400 nm.
Fabricantes que apresentam também as certificações adicionais (além da certificação mínima) possuem produtos que apresentam a confiabilidade necessária para um projeto seguro e adequado.
A conclusão disso tudo é que a lista Tier é de fato uma ferramenta útil, mas apenas para consulta sobre a postura dos fabricantes quanto às políticas de garantia e de capacidade de suprimento material. Vale a pena consultá-la, mas é preciso estar ciente de que não vale como um indicativo direto sobre a qualidade e confiabilidade dos módulos fotovoltaicos.
Todos os envolvidos na implementação de um projeto fotovoltaico devem se preocupar em escolher módulos e demais materiais de alta qualidade para compor o sistema. Para isso, é preciso observar se os produtos foram testados e certificados pelas entidades certificadoras.