Tier 1. Com o crescimento do mercado fotovoltaico em todo o mundo, o número de fabricantes de equipamentos também teve um aumento considerável. A partir disso, é preciso desenvolver métodos e técnicas para destacar os fabricantes com boa reputação e boas práticas industriais.
Uma dessas classificações é a Tier 1. Ela foi criada pela Bloomberg New Energy Finance (BNEF), um serviço que disponibiliza dados, informações e análises para os profissionais do mercado de energia. Confira no artigo a seguir mais detalhes sobre essa classificação, e o que de fato significa ser uma empresa Tier 1.
O que é a classificação Tier 1?
Desenvolvida pela BNEF, a classificação Tier 1 analisa a capacidade de uma empresa ser aceita nos financiamentos de bancos e agentes financeiros. É preciso levar em consideração que as instituições financeiras só escolhem financiar empresas que arcam com a garantia do produto e possam oferecer produtos de qualidade e durabilidade.
Apesar de ser muito utilizada pelos fabricantes de painéis fotovoltaicos como uma garantia da qualidade dos seus produtos, esta certificação não diz respeito a isso. Seu propósito é outro, de certificar a estabilidade financeira da empresa.
A própria entidade que a desenvolveu afirma que essa classificação não serve para garantir a qualidade do produto, nem substitui a análise e inspeção dos processos técnicos e parâmetros de qualidade.
Para que uma empresa consiga esta certificação, é preciso seguir alguns critérios específicos. Confira a seguir quais são.
Quais os critérios para uma empresa ser Tier 1?
O primeiro deles é ter uma marca e fabricação próprias, sem terceirização da produção e sem agregar células de terceiros em seus módulos. Isso ajuda a selecionar fabricantes com mais controle sobre sua produção e qualidade. A empresa também não pode ter pedido concordata (falência) ou estar em situação de insolvência.
Outro critério a ser atendido envolve ter cumprido o fornecimento de módulos fotovoltaicos para ao menos 6 projetos acima de 1,5 MW, financiados nos últimos 2 anos por bancos diferentes, que não sejam de desenvolvimento.
Esse financiamento precisa ser do tipo non-recourse (sem recurso), no qual o banco toma como garantia de empréstimo algum ativo do cliente (pode ser um imóvel, o próprio empreendimento fotovoltaico, etc.). O banco não pode cobrar valores extras após a tomada desse ativo em caso de não pagamento.
Assim sendo, se o banco realiza o empréstimo para um projeto contendo painéis de um fabricante que não respeite suas garantias ou que tenha qualidade duvidosa, a produção do projeto fotovoltaico fica comprometida e o risco de prejuízo aumenta, assim como o risco do banco perder dinheiro mesmo com a tomada de ativos do cliente.
Como é possível notar, esse tipo de empréstimo é arriscado para o banco. Por conta disso, é necessário que sejam rigorosos os critérios para a análise interna de qualidade dos componentes e do projeto.
Os bancos não divulgam publicamente quais os critérios internos adotados para a aceitação de crédito para um projeto fotovoltaico. Dessa forma, não é possível ter certeza sobre os critérios considerados, e, portanto, não há como assumir que a lista dos Tier 1 seja de fato um indicativo definitivo e seguro a respeito da qualidade superior dos módulos.
O que se pode concluir dos fabricantes classificados como Tier 1 é que têm boa bancabilidade, ou seja, uma boa probabilidade de que os projetos que utilizam seus módulos fotovoltaicos tenham um financiamento aprovado.
A bancabilidade mostra que o fabricante possui uma boa reputação perante os bancos, sendo capaz de honrar seus termos de garantia e de suprimento. Mesmo que não sejam critérios relacionados à qualidade dos produtos, ainda assim são aspectos almejados para pôr em prática o seu projeto fotovoltaico de maneira simplificada.
Ainda falando sobre os critérios, empresas que fornecem uma quantidade menor de equipamentos com fabricação própria são classificadas como Tier 2. Já as empresas que disponibilizam poucas informações sobre os módulos solares que produz correspondem à classificação Tier 3.
Portanto, é possível concluir que a lista com fabricantes, Tier 1 foca em aspectos financeiros, como estabilidade e a capacidade de honrar garantias e de suprir projetos. Essa classificação auxilia o projetista ou seu cliente a selecionar um fabricante com maior confiabilidade para fornecer os equipamentos necessários para colocar o projeto em prática.
A BNEF recomenda que, ao invés de usar a lista Tier 1 como medida de qualidade, que sejam feitas análises sobre as empresas qualificadas para trabalhar com energia solar. Saiba mais sobre isso no próximo tópico.
Como saber se um fabricante atende aos padrões de qualidade?
Ainda que o fato de uma empresa estar na lista Tier 1 seja um indicativo positivo (já que nenhum banco emprestaria dinheiro para um projeto realizado com módulos de baixa qualidade), isso não significa necessariamente um indicativo de qualidade. Por isso, é importante buscar outras formas de avaliar as condições do produto e do seu fabricante.
O selo do INMETRO é comumente utilizado no Brasil como garantia de que o produto passou por testes e processos que garantem maior segurança na compra e qualidade no produto.
No caso dos equipamentos para geração de energia solar, no entanto, o mesmo não necessariamente se aplica, pois a maioria dos produtos desse setor é importado, e o selo INMETRO não contempla todos os requisitos internacionais de qualidade e segurança.
É preciso avaliar se os módulos solares passaram nos testes do IEC 61215. Essa sim é uma forma de ter mais garantia de que o produto foi aprovado em todos os testes utilizados mundialmente nos quesitos de durabilidade, eficiência, desempenho e segurança. Esses testes incluem:
- Inspeção visual
- Determinação de potência máxima
- Resistência de isolamento
- Teste molhado de fuga corrente
- Medição dos coeficientes de temperatura
- Medição da temperatura Nominal de Funcionamento da Célula
- Desempenho do Painel Solar
- Teste de exposição ao ar livre
Com isso, podemos concluir que a lista Tier é sim uma ferramenta útil, mas apenas no que diz respeito à consulta da postura do fabricante quanto às políticas de garantia e de capacidade de suprimento.
Não serve, no entanto, como um indicativo direto de qualidade e confiabilidade dos módulos, pois não necessariamente um produto listado como Tier 1 possui qualidade superior. Como citado anteriormente, essa classificação engloba, sobretudo, aspectos relacionados à saúde financeira da empresa.
O instalador, o projetista e os clientes do segmento de energia solar devem todos estar atentos para escolher módulos de alta qualidade. Para isso, é preciso observar se os produtos foram testados e certificados pelas entidades certificadoras.