As baterias evoluíram mais uma vez, e agora vão pular dos carros elétricos para dentro das casas. Na função de armazenadores de energia, novos aparelhos disponíveis no Brasil podem garantir uma autonomia de até 16 horas para uma residência em caso de apagões elétricos, afirmam as empresas comercializadoras.

Aliadas às placas de geração de energia solar, as baterias de armazenamento são uma aposta do mercado de energia em 2025. No Brasil, grandes players já estão com produtos na praça, de olho no consumidor que procura economizar na conta de luz e também manter sua infraestrutura livre de apagões.

Desde ligações residenciais a grandes fazendas solares, a solução de armazenamento era esperada no setor de energia limpa como uma peça importante para otimizar a geração de energia limpa, que tem a característica intermitente: produz de acordo com a disponibilidade na natureza, sejam dias ensolarados ou de ventania.

Com a opção de estocar essa energia, grandes geradores solares e eólicos veem uma luz no fim do túnel do curtailment, que ocorre quando o Operador Nacional do Sistema impõe a redução ou interrupção forçada da geração de energia dessas fontes para evitar sobrecargas na rede. Estas perdas são um problema que hoje gera prejuízos e insegurança no negócio da geração de energia limpa em escala.

No caso residencial e de empresas, as baterias se tornaram acessíveis e estão sendo oferecidas como uma opção de segurança energética, um backup para se garantir contra imprevistos. Mas, usadas de maneira planejada, as baterias podem ser também otimizadoras da economia gerada por painéis solares, afirmam integradores.

“Nas grandes chuvas, como ocorre em São Paulo, ficamos sem energia. Essa é uma causa de instabilidade. Algumas distribuidoras acabam tendo mais falhas, e empresas, indústrias, necessitam de um sistema de armazenamento para não parar a produção e ter prejuízos”, destaca Luiza Bertazzoli, head de inteligência da consultoria Greener.

De carona nos carros elétricos

As baterias chegaram ao estágio atual de preço e tecnologia graças à potência do mercado de carros elétricos (EVs), que serve como locomotiva para toda uma cadeia de energia limpa, aponta análise da IEA (Agência Internacional de Energia).

“A principal contribuição da indústria automotiva para baterias de armazenamento para maior integração de energias renováveis ​​intermitentes é indireta: veículos elétricos são de longe a maior fonte de demanda por baterias, e a economia de escala traz menores custos de produção, beneficiando também o mercado de baterias de armazenamento”, explica Teo Lombardo, especialista em baterias e transporte da IEA, em conversa com Um Só Planeta.

A eletrificação da sociedade está levando o mercado mundial de baterias a uma nova fase, aponta relatório da agência publicado no início de março. Mais baratos e eficientes a cada ano, estes equipamentos já permitem que EVs tenham preços competitivos, assim como passam a formar uma aguardada “dobradinha” com os painéis solares, no que é considerado uma tendência que deve crescer a partir deste ano.

“O setor de solar sabe que o armazenamento é uma supersolução, mas era difícil sonhar com isso. Hoje a conta fecha, e vamos abrir espaço para mais fontes renováveis. Os veículos elétricos aumentam a demanda por eletricidade, o que demanda mais solar e mais produtos de armazenamento”, afirma Rodrigo Moreno Garcia, gerente de pesquisa e desenvolvimento da BYD.

Consumidor residencial quer segurança

A Enerzee, plataforma de energia solar, passou a oferecer baterias em seus kits residenciais este ano, graças a uma parceria com a fabricante WEG. A empresa afirma que os kits podem reduzir os gastos em até 95% com a conta de luz e estão disponíveis a partir de R$ 31.695, podendo variar de acordo com a região do país. Outros players deste mercado, como a BYD Energia e a Solfácil, também integraram baterias aos kits solares residenciais que comercializam ou financiam.

O preço de um kit com painéis solares e bateria para uma residência hoje é similar ao preço dos painéis solares apenas há alguns anos atrás, argumenta Brian Korgaonkar, diretor de produto da Solfácil, que afirma que hoje a vantagem número 1 para os consumidores é ficar imune aos apagões, muitas vezes gerados por eventos extremos do clima.

“É uma questão de segurança e bem-estar. As pessoas querem usar o ar-condicionado, manter a internet conectada, suas câmeras de segurança funcionando e a comida fresca na geladeira”, observa o executivo. “Solar é um bom negócio para clientes no Brasil, e ele pode armazenar energia gerada pelas placas, usar durante apagões ou à noite, economizando. É um bom casamento.”

A capacidade das baterias residenciais ainda não permite que uma casa possa se desligar completamente do grid, mas pode diminuir bastante os gastos usando ao máximo a potência das placas solares, agora guardando energia para momentos sem sol. No caso de propriedades isoladas, como fazendas, a associação de placas e baterias pode reduzir a dependência de geradores, diminuindo o consumo de combustível e emissões de carbono, que contribuem para o aquecimento global.

Mercado vem crescendo

No Brasil, no último ano a demanda por componentes para sistemas de armazenamento de energia cresceu 89% em relação a 2023, e grande parte desses sistemas deve ser instalada ainda em 2025. Estima-se que o mercado de armazenamento com baterias movimente mais de R$ 22,5 bilhões em investimentos no país até 2030, segundo o Estudo Estratégico de Armazenamento de Energia, produzido pela consultoria Greener e publicado em março.

Nos Estados Unidos, a demanda por baterias para aplicações estacionárias (de armazenamento) aumentou em mais de 60% ao ano nos últimos dois anos, observa a IEA.

O custo médio de uma bateria para EVs caiu abaixo de US$ 100 (R$ 576) por quilowatt-hora, entrando em competição direta com carros convencionais, aponta a agência. Nos últimos dez anos, o preço de uma bateria caiu cerca de 75%, enquanto em 2024, as vendas de carros elétricos aumentaram em 25% no mundo, para 17 milhões de unidades

A Greener destaca que o mercado global de armazenamento de energia com baterias deve atingir 760 GW de potência instalada até 2030, mais do triplo da capacidade energética total do Brasil. China, Estados Unidos e Alemanha estão à frente desta corrida, mas a definição de um marco legal e uma discussão de incentivo fiscal podem dar impulso ao mercado brasileiro, defende a head de inteligência da consultoria.

FONTE: 
https://umsoplaneta.globo.com/energia/noticia/2025/04/02/baterias-entram-em-nova-fase-e-devem-mudar-geracao-de-energia-limpa-desde-casas-a-usinas.ghtml

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